Autor desse artigo: @vanessagleizer

A depressão é uma doença de desordem mental e de etiologia multifatorial que atinge milhões de indivíduos em todo o mundo. É classificada como uma doença psiquiátrica e é caracterizada por oscilações de humor, sentimento de culpa, tristeza profunda, impaciência, irritabilidade, baixa autoestima, falta ou excesso de sono, alteração no apetite, ganho ou perda de peso e até mesmo pensamentos suicidas. Os fatores de risco para o desenvolvimento dessa patologia são: idade, sexo, faixa etária e também predisposição genética.

É comum apresentamos nessas situações quadros de falta de ânimo e tristeza, porém devemos ter atenção quando esse quadro persiste por muito tempo causando um comprometimento nas relações sociais e familiares. A depressão é grave e pode causar incapacidade e, se não tratada, em alguns casos, pode acabar levando ao suicídio. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em 2016, o suicídio foi à segunda causa de morte em jovens com idade entre 15 a 29 anos (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2016 – 2017). 

O último relatório da Organização Mundial da Saúde (Depression and Other Common Mental Disorders: Global Health Estimates), lançado em 2017, mostra que no Brasil, 5,8% da população vive com depressão, em números isso representa quase 12 milhões de brasileiros vivendo com a doença. Quando comparado com a América Latina, o Brasil vem em primeiro lugar, ficando em segundo quando comparamos com as Américas. A prevalência mundial é de 4,4 % (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2017).

 Na depressão acontece um desbalanço dos neurotransmissores como serotonina, noradrenalina e dopamina no sistema nervoso central, que são responsáveis pela regulação da fome, sono e humor. 

Diversos estudos mostram que as intervenções preventivas são responsáveis por reduzir consideravelmente a incidência de novos episódios de depressão, e que o estilo de vida e os hábitos alimentares do indivíduo apresentam eficácia comprovada neste processo. Pensando nisso, a nutrição é uma grande aliada, já que vários estudos têm demonstrado a influência dos alimentos na melhora do humor e enfrentamento dos sintomas depressivos. 

Outro fator também importante é cuidar da nossa microbiota intestinal, que é formada por trilhões de microrganismo no trato gastrointestinal. A composição desta microbiota pode ser alterada através de diversos fatores: antibióticos, obesidade, alergias, doenças inflamatórias e metabólicas. Estudos tem elucidado que a mudança na dieta é extremamente associada à alteração da sua composição. 

Os estudos comprovam que modificações no estilo de vida, especialmente no padrão alimentar é o fator mais determinante na definição da composição e diversidade do microbioma intestinal. Em geral, o consumo de frutas, vegetais e fibras está associado a uma maior riqueza e diversidade da microbiota, enquanto o aumento da ingestão de alimentos industrializados (ricos em gordura e açúcar) contribui para o aumento do risco de doenças inflamatórias crônicas, como a depressão.

Assim, a dieta precisa ser ajustada uma vez que a produção de neurotransmissores (como serotonina e endorfinas) é dependente de nutrientes, que chamamos de cofatores. Pesquisas mostram que uma dieta anti-inflamatória está associada a menor risco de depressão, ansiedade e transtorno bipolar.

A dieta anti-inflamatória é rica em polifenóis (fitoquímicos), vitaminas, minerais e fibras com efeitos protetores. Já a dieta de padrão ocidental é pobre nestes nutrientes e rica em gordura saturada e gordura trans, carboidratos simples e calorias, o que se associa a maior inflamação, estresse oxidativo, disfunção mitocondrial, alterações negativas na microbiota intestinal e maior risco de depressão.

Alguns nutrientes em especial destacam-se quando o assunto é nutrição e depressão, sendo eles: a deficiência de ômega-3, vitaminas do complexo B (B6, B9 e B12), vitamina D, minerais (em especial o magnésio e zinco) e aminoácidos (principalmente o triptofano), os mais frequentemente vistos em pacientes que sofrem desta condição. 

WOLFQANQ MARX, ET. AL. Diet and depression: exploring the biological mechanisms of action. Molecular Psychiatry, 2020.

 

Alguns artigos relatam que uma dieta rica em fitoquímicos como os polifenóis, presentes no mirtilo, cacau e açafrão, entre outros, possuem fortes propriedades antiinflamatórias que podem ser benéficas para uma variedade de distúrbios neuropsiquiátricos. 

Os ácidos graxos ômega-3 são os principais componentes da membrana celular neuronal e modulam as vias dopaminérgicas e serotonérgicas que são indispensáveis para o funcionamento adequado do cérebro. Eles são encontrados em altas concentrações em produtos alimentícios marinhos, como salmão, sardinha e atum, que possuem propriedades antiinflamatórias e podem melhorar os resultados clínicos e reduzir a depressão induzida por citocinas inflamatórias. 

O estresse oxidativo persistente tem também sido implicado na depressão e outros transtornos de saúde mental. Por isso, a dieta precisa ser rica em antioxidantes e reduzida em açúcares e gorduras saturada e trans. As vitaminas como vitamina C (ácido ascórbico), vitamina D e vitamina E (alfa tocoferol) e nutrientes como selênio, magnésio, zinco e cisteína precisam ser ajustados na dieta, a fim de potencializar o perfil antioxidante e antiinflamatório do organismo desses indivíduos. 

O consumo adequado de fibra também é fundamental para modular a microbiota intestinal, potencializar a imunidade, reduzir a inflamação e estimular a neurogênese. A suplementação prebiótica (fruto e galacto-oligossacarídeo) ajuda a reverter alterações crônicas induzidas pelo estresse oxidativo na microbiota intestinal, evitando a redução de microrganismos benéficos, como Bifidobacterium ou Lactobacillus e controlando e reduzindo a inflamação.

O triptofano é o aminoácido essencial precursor da serotonina que possui papel fundamental na fisiopatologia da depressão. A quantidade de serotonina que será produzida a partir do triptofano, é diretamente proporcional à sua biodisponibilidade no plasma e da atividade da enzima triptofano hidroxilase (que participa do processo de conversão do triptofano em serotonina). Portanto, além da ingestão adequada deste aminoácido que está presentes em alimentos como a banana, cacau, grão de bico e produtos lácteos, deve-se atentar também a outros nutrientes como magnésio e vitaminas do complexo B, pois eles fazem parte da composição desta enzima.

A deficiência de vitaminas do complexo B, principalmente as vitaminas B6, B12 e folato implica no surgimento de doenças neuropsiquiátricas, já que folato e vitamina B12 são cofatores na metilação de homocisteína e síntese de S adenosil metionina – envolvida no metabolismo de proteínas e fosfolipídios, e na biossíntese de neurotransmissores como serotonina, epinefrina e dopamina. Por isso, se faz necessário a inclusão de alimentos como cogumelos, peixes, cereais intergrais, leveduras, vegetais folhosos verde escuros, abacate, ovos como fontes do complexo B.

 

Além de uma melhora do padrão alimentar deste individuo para uma alimentação com maior teor de frutas, legumes, cereais integrais, peixes, ovos, oleaginosas, fibras com menor teor de açúcar e gordura saturada, destaca-se a importância não apenas desses hábitos nutricionais saudáveis, como também a prática de atividades que proporcionem prazer e bem estar geral ao indivíduo, além de exercícios físicos feitos regularmente e manejo do estresse do dia a dia. Priorizar este contexto de equilíbrio previne o desenvolvimento da depressão e proporciona melhor qualidade de vida.

WOLFQANQ MARX, ET. AL. Diet and depression: exploring the biological mechanisms of action. Molecular Psychiatry, 2020.

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